23 junho 2010

Trovas da Fonte de Vale Trigo

Quero que o meu olhar te espante e te deleite
como a minha alma a rezar com a luz do teu azeite

Trago o orvalho da terra regando cardos e abrolhos
e as florinhas da serra no cantinho dos teus olhos

Ai monte, de seres tão alto, vivo de cruzes quebradas
de pedra em pedra que salto, lembro memórias passadas

Quem me dera ser teu amo, teus montes poder tratar
abrir caminhos que tramo, dormir de noite ao luar

Ao rebusco no quintal, à procura de mais grão
criei-te no amendoal, vida grande e grande chão

Falaste-me dos amores, dos regados e legumes
de caminhos e de flores, das auroras e perfumes

Ouço o silêncio do céu e o da terra bem mais forte
já não há anjos ao léu, já não há choro nem morte

No monte como romeiro, quero recordar contigo
as promessas no celeiro e a frescura de Vale Trigo

Se a azeitona de Inverno não desse a luz aos mortais
seria a vida um inferno: só pecados capitais

Quero dos teus um só beijo, debaixo da grande lua
estrelado céu do desejo, na calçadinha da rua

Calai-me ó Bárbara minha, Senhora do Bom Despacho
Que já bebi da biquinha, como de um bico o borracho

Quero ficar a teus pés deitadinho a ronronar
muitos dós e muitos rés como as mós sempre a rodar.

(Mário Anacleto)

Comments:
Lindíssimas trovas. O Sr Mário Anacleto põe nas palavras a paixão pela sua terra...
 
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