15 junho 2010

"Ecos do Monte" - (Mário Anacleto)

Ai minha mãe que me geraste no xisto
no mais doce e duro xisto desta vida
onde mora Santa Bárbara, velida,
de nome bárbaro como tinha minha avó,
onde a brisa e o silêncio me podam
como às crinas das giestas no monte onde nasceu o vento
mirando o rio a norte e ao relento,
serpente no paraíso,
lento como um fio de mel ou de licores de mosto
que se emprenham castamente com o calor de Agosto

Ai, minha mãe que me criaste nas ilhargas da montanha
onde só eu te parecia
de entre todas a flor menos bravia
Quem me dera ter-te ainda junto aos meus percalços
que só viveste na penumbra da felicidade
que não te floriram os olhos como as amendoeiras
que não provaste o azeite virgem das oliveiras
que não andaste ao rebusco nos amendoais
e só pudeste mesmo colher meu pranto
nas lancinantes dores do meu sentido canto

A dar forma à minha alma guardo as tuas mãos abertas
com as mesmas rugas que as tábuas com que é feito o monte
que se descobre ao perto, longe do horizonte,
e sempre a pique obrigando o olhar mais alto
antes que se curve de desânimo.
E sinto a tua pele dos beijos como seda pura,
entre tantas freimas, choros e desventura
e o timbre de ouro com que desafiavas
os rouxinóis, melros e pintassilgos destas Mós,
sempre que apertava a dor e a escondias com a tua voz.

http://www.youtube.com/watch?v=HvT03pxhe58

Comments:
A paisagem é linda, o poema é belo, a musica é sublime.
Ler o poema juntamente com a musica... é o convite que eu faço. A mim, fez-me ficar desfeita em lágrimas! Uma mistura de encanto, saúdade e deslumbre.
É como se a paisagem falasse, como se nos difundissemos no encanto daquelas montanhas e do céu... a mesma sensação inigualável quando estamos lá em cima, na Sta. Bárbara a observar o horizonte e sentir o silêncio que nos embriaga de leveza e serenidade.
Este poema é um lindo hino às Mães. À mãe de cada um de nós, às mães dos filhos de sangue mosense e em sintonia com a Mãe Natureza.
Sublime! É a palavra certa.
Bem haja Senhor Professor Mário Anacleto por esta partilha da sua arte poética. Bem-haja por sentir a pureza da alma desta terra e desta gente.
É um privilégio tê-lo perto de nós (nas Mós).
Muito obrigada.

Um forte abraço para as Mós

Maria Cristina Quartas
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?