10 dezembro 2004

Magusto nas Mós

Magusto de S. Martinho em Mós do Douro!
Uma vez mais a Associação de Cultura e Recreio "As Mós", decidiu receber o Outono com um magusto à moda antiga, não faltando as febras grelhadas nos fogareiros e as belas castanhas assadas na fogueira, lembrando-nos os magustos dos velhos tempos. Não deixaram de estar presentes a maioria dos residentes e alguns amigos das aldeias circunvizinhas, nesta tradicional festa em homenagem a S. Martinho. Festa que teve lugar no recinto da Escola adjacente à Sede da Junta da Freguesia, onde dezenas de pessoas se deliciaram com as belas castanhas, vinho novo, jeropiga e outras bebidas.
De destacar a animação dos jovens idosos, que mesmo arriscando uma dança à roda e cantando à moda antiga, lá foram batendo o pezinho, a quem coube a responsabilidade de animar esta festa a S. Martinho, durante algumas horas, não faltando algumas anedotas, que estes jovens assim os podemos considerar, retêm na memória dos tempos alegres da sua infância. Puderam reviver tempos de outrora, em que a vida apesar de dura, provava ser mais simples e prazenteira. A castanha quentinha e febras grelhadas pelas mágicas mãos e perícias do Sr. Luís e Artur, acompanhadas de boa pinga, proporcionaram um convívio salutar entre a terceira idade e a juventude. Mas falamos um pouco da história da vida de S. Martinho que muitos desconhecem. No calendário religioso consta que S. Martinho, foi na juventude - generoso, fraterno e solidário com as dores dos outros. Durante toda a vida, foi-lhe dado "um dia" em que essas virtudes se expandem na festa de um ritual popular velho e pagão. É tempo de provar o vinho novo, exactamente na altura em que o fruto de uma árvore histórica da flora mediterrânea, a castanha, esta a ser colhida. A nossa terra é rico no bom vinho, mas não é na castanha que temos de a procurar noutras regiões. A castanha tem dons especiais, alimento nobre e indispensável há séculos antes da batata que chegou nas caravelas, ela é o centro de uma das ansiedades do Outono. Os magustos do S. Martinho, exigem escolha de sítio, gostam de risos, alegrias e histórias para serem contadas. Parte-se depois em companhia do Sol no arrefecer da tarde e do braseiro, em torno do qual se bebeu, dançou e se contaram anedotas. Quem marca mais fortemente este imaginário da antiquíssima festa é o vinho novo. "Furar as Adegas". Símbolo e memória, sinal que vem dos alicerces gregos e romanos da nossa cultura, é o vinho que preenche esse espaço de liberdade que levava por exemplo, os rapazes das aldeias a correr as casas para provar os aromas e as artes que se escondem depois de misteriosas fermentações, nesta e naquela pipa de suspeitados segredos. No tempo da juventude dos mais idosos em quase todas as aldeias desta nossa região, havia jogos, chocalhos e fantoches que disfarçavam os humanos bebedores, fazedores de comédias e de medos que atormentavam os sonhos dos meninos. No dia de S. Martinho era o dia de furar a pipa e provar o vinho novo! Chegou mesmo a haver entre nós legislação, vinda já do século XVIII, que interditava e punia severamente a venda da pinga da última colheita antes do dia 11 de Novembro... O vinho simboliza na celebração eucarística o sangue de Cristo. A religiosidade e a festividade pagã, onde fomos buscar as velhas tradições que algumas aldeias ainda preservam, não foram ainda capazes de conjugar essas heranças "irmãs" em conhecimentos colectivos que destaquem a força das nossas raízes culturais. Parece mesmo que os nossos tempos também esqueceram o filho de um soldado das Legiões de Roma e que um dia, generosamente, repartiu a capa que o cobria com um pobre que lhe saiu ao caminho. Nasceu no ano 316, é contemporâneo de Constantino, filho de Santa Helena e primeiro Imperador Cristão. Em Sábria, onde se encontram agora as terras da Hungria, foi com o pai para a Capital dos "Césares", alistando-se como militar aos 15 anos. O mendigo a quem deu metade da capa, para se proteger do frio, era afinal, segundo a lenda o Filho de Deus. Jesus ainda na lenda apareceu-lhe na noite seguinte, com a metade da capa dada por Martinho. Cristão desde a infância, S. Martinho viria a percorrer toda a Gália (actual França) operando milagres. Mais segura é a informação de que foi bispo de Tours e que morreu em 8 de Novembro do ano 397, quando o cristianismo se consolidava e, ao mesmo tempo os bárbaros, vindos do Oriente, venciam, e destruíam o Império Romano do Ocidente. Foi mais um dia de Festa, em que todos os membros da Associação, Junta de Freguesia e colaboradores estão de parabéns, assim como todos os participantes pelo seu civismo demonstrado e que com a sua alegria, boa disposição e caras enfarruscadas deram brilho a esta festa em homenagem a S. Martinho!... Luciano A. Pereira
( Jornal O FOZCOENSE 1-12-2004 )

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