28 outubro 2004

A Arte Esteve Presente na Festa das Mós

Crónica das Mós
A ARTE ESTEVE PRESENTE NA FESTA DAS MÓS
Aqueles que por mera hesitação ou displicência resolveram não comparecer à Festa das Mós, nem imaginam o que perderam! A maior das surpresas terá acontecido logo no dia 18 de Setembro, com a abertura da exposição artística, modestamente anunciada como: “1ª Mostra de Artesanato Local”. Este admirável acontecimento teve lugar no espaço onde funcionou o café do generoso amigo António dos Santos, e foi inaugurado, a meio da manhã, com a honrosa presença do senhor Presidente da Câmara, Eng.º Sotero Ribeiro que trazia na sua comitiva uma ilustre museologista. Recebidos pelo dedicado Presidente e outros elementos da Junta de Freguesia e restantes membros da A. R. C. “As Mós”. O amigo José Alberto, em nome das duas instituições, deu as boas vindas aos ilustres visitantes, a que respondeu o ilustre edil. Qualquer visitante constatou, desde logo, quão redutor era o anúncio do evento. É que, muito mais que uma simples “Mostra de Artesanato Local”, estivemos perante uma verdadeira manifestação artística, onde, para além de várias manifestações da arte popular, esteve também presente a arte erudita, já que muitos dos quadros ali expostos evidenciavam actividade criadora de pintores que, acima de tudo, procuraram dar expressão sensível à realidade objectiva e às experiências do próprio homem e que, por isso mesmo, têm perfeito cabimento no domínio das artes plásticas e, por inerência, nas belas artes. Certamente, os próprios organizadores foram surpreendidos não só pela quantidade de participantes, mas também e sobretudo pela qualidade de alguns trabalhos apresentados. Só por este facto e por ser esta a primeira experiência do género acontecida nas Mós, pode ser justificada a ausência de um catálogo ou (no mínimo) de uma simples listagem, onde ficassem registados todas as obras apresentadas, bem como os nomes dos respectivos autores. Aqui e agora, é de todo em todo impossível referir, um a um, os trabalhos expostos. Mas é da mais elementar justiça identificar os nomes dos 14 “fazedores” e/ou divulgadores de cultura que estiveram presentes nesta memorável exposição. Como pintores, participaram: Cátia Daniela Moutinho Esteves, Eduardo Barandas Polido, José Bernardino Soares Moutinho e Maria Rosalina Macieira de Castro que, além de pinturas em telas, apresentou outras em porcelana, barros e vidro. Com quadros feitos em ponto cruz, expuseram: Celeste do Carmo Branco Pereira, César Augusto Freitas de Oliveira, Maria Adélia Ferronha Ferreira Diogo, bem como Maria da Graça Pires Lousa que apresentou, também, tapetes de “Arraiolos”. Seis dos participantes eram miniaturistas. Demonstrando sensibilidade, talento e destreza, apresentaram peças únicas de cunho acentuadamente tradicional ou popular, reproduzindo em tamanho reduzido algo que aos nossos olhos apareceu repleto de memória afectiva e duma grande carga identitária. Para a construção das suas miniaturas utilizaram materiais manifestamente improvisados, tais como: cortiça, madeira, lata, barro e até grãos de milho! Os artefactos mais próximos da tradição mosense foram todos os construídos em cortiça e alguns dos feitos em madeira, representando animais, móveis ou alfaias agrícolas. Os mais significativos exemplos estiveram presentes nas pequenas peças de António da Silva Carvalho (Roque), nas de Vitor Manuel Lebreiro Polido e em algumas miniaturas de Acácio Augusto Barandas. Utilizando igualmente a madeira e não só, Aristides dos Santos Fernandes, entre outros trabalhos e para além das miniaturas referentes às tecnologias tradicionais (moinhos, o forno, a forja, etc.), expôs a reprodução miniatural da “Casa D`Avó” (no Fundo do Povo), e as miniaturas de três “ex-libris” das Mós: a igreja matriz e as capelas de Santo António e de Santa Bárbara. Três peças que o autor acabou por oferecer à Associação de Cultura e Recreio “As Mós”, com a intenção de um dia as ver expostas num (mesmo que pequeno) museu que, num futuro mais ou menos próximo, ocupará algum do espaço na muito ansiada sede desta prestimosa instituição. Utilizando o barro, Carlos do Carmo do Vale Esteves apresentou “figuras tradicionais” e Ana Isabel Filipe Antunes as suas miniaturas em massas moldadas. Falta referir que Acácio Augusto Barandas para além das miniaturas atrás referidas, apresentou uma reprodução da igreja matriz, construída há 30 anos, com grãos de milho! Outra surpresa foi a exposição dos três instrumentos de corda que ele pacientemente construíra. Durante e depois da visita inaugural os participantes obtiveram rasgados elogios do senhor Presidente da Câmara que após a inauguração trocou com os elementos mais representativos da Junta palavras de saudação e de conveniência, a que se seguiu um repasto no salão da Junta de Freguesia, com um “menu” que mereceu elogiosas referências ao “artista” em culinária, Luís Alberto Polido, pela boca do Senhor Eng.º Sotero Ribeiro, elogios que merecerem o aplauso de todos os presentes. Resta dizer que durante os dois dias que durou a Festa, esta exposição foi visitada por pessoas originárias de várias localidades, nomeadamente de Freixo de Numão, através da sua A. C. D. R. que aqui trouxe uma excursão que incluía alguns estrangeiros. Feito o “balanço” no fim da Festa, concluiu-se que terão sido mais de mil os visitantes desta exposição! Mas também as restantes componentes da Festa estiveram a níveis superiores às expectativas, graças ao elevado zelo e dedicação dos seus organizadores que, em certos casos, foram insuperáveis. Parabéns! As cerimónias litúrgicas, todas elas dirigidas pelo pároco, reverendo padre António Ferraz, tiveram início às 14 horas e 30 do dia 18, com a celebração da santa missa, logo seguida da Procissão de recolha de andores e de oferendas, abrilhantadas com a actuação da banda musical “Sociedade Filarmónica Felgueirense”. Findas as cerimónias religiosas e até ao fim daquela tarde, esta Filarmónica fez-se ouvir no Terreiro. Depois, entre as 22 e as 24, horas actuou o “Grupo Musical “Midnes“, a que se seguiu o sempre aguardado fogo de artifício. A meio da manhã de domingo, dia 19, chegou a Banda Musical 81 de Ferreirim que, com a sua conhecida afinação e galhardia, percorreu e animou as principais ruas da povoação. Depois da missa solene, pelas 14 horas e 30, começou a actuar o bem conhecido Grupo de Música Tradicional “Sol na Eira” e a sua actuação só teve um defeito: soube-nos a pouco... Depois das 16 horas, teve lugar a majestosa Procissão que, perante a surpresa geral, abria com dois soldados da GNR com fardas de gala e montados em dois esplendorosos cavalos; seguidos de muitos andores e estandartes, conduzidos por crianças, senhoras e homens, precedendo o andor de Nossa Senhora da Soledade e pálio, seguidos, devotadamente, por muita gente das Mós e não só. Esta procissão decorreu com uma magnificência raramente vista em aldeias como a nossa! Depois, realizou-se a procissão do meu antigo e sempre venerado vizinho, Santo António. E ainda antes do jantar, teve lugar no Terreiro a indispensável quermesse. Só depois da “ceia” pôde realizar-se a parte culminante do arraial: a tradicional “volta ao Povo”. Mesmo a desoras, cumpriu-se a tradição com o entusiasmo e a alegria de sempre. Obrigado garbosos e generosos músicos da banda de Ferreirim. Estão de parabéns todos quantos contribuíram para vivermos alguns inolvidáveis momentos. Para nós a Festa terminou na primeira meia hora desta inigualável manifestação de alegria, para outros prolongou-se noite fora. Depois da “Volta ao Povo”, os mais valentes e animados continuaram a dançar no Terreiro ao som das músicas do “Agrupamento Musical Tony”.
Algés, 15 de Outubro de 2004
José Gomes Quadrado

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