30 abril 2011
Mensagem do meu coração
Encosto à janela minha face pousada nas minhas mãos. Olho através da vidraça, faz calor. Uma lágrima furtiva rola até ás mãos...solto-me desta minha realidade e deixo-me vaguear por aqui e por ali. Mas...que saudade tão no hoje! De passado que embora longe faz-me sentir o cheiro a terra quente, o trautear do burrinho nas fragas, os sininhos do rebanho pela montanha acima, o eco da voz do pastor empurrando seu gado, o galo que canta e o som do sino da igreja...Tudo está ali em meu coração! Tudo tão presente! Movo meu corpo e entro na cozinha. Logo me vem o cheiro daquela sopa que dentro da panelinha de ferro pousada nos seus três pés deixa inalar o cheiro a grão...
Sinto muita saudade! Saudade de meus avós que pela força das circunstâncias só via durante um pequeno período quando estava de férias.
Mas que ansiedade eu sentia na aproximação desse mês, Setembro, quando já de férias esperávamos o comboio em S. Bento e embarcando, só chegaríamos à estação de Freixo de Numão ao cair da tarde! Tremia ao aproximar da estação. Depois avistávamos o avô Manuel, santo homem, paciente, que a ninguém fazia senão cumprir todas as obrigações para que nada nos faltasse!
Manhã cedo, ainda madrugada e a Lua ainda de atalaia, saía ele com dois cântaros em cima do burrinho apanhar na mina, copo a copo a água para bebermos. De volta traria belos cachos de uvas dependurados no assento do burrinho. Que bom estar ali... e ainda estou, pois este sentir atirou-me para tempo que está para trás e tão distante.
Iríamos ter a festa da aldeia. Iria calçar sapatos novos, vestir um vestido novo. E que ansiedade por esse dia!
Fazia muito calor... e que divertido!
Manhã cedo, sentia-se a frescura da alvorada, todos se levantavam mais cedo do que de costume, pairava no ar uma leveza em que todos acreditavam... a Senhora da Soledade iria aparecer aos olhos de todos, aquela Santa que tudo cumpriria, consoante os pedidos de seus crédulos. Toda a aldeia parecia ter um perfume especial, um perfume que sinto cada vez que revivo estas situações.
Na hora de almoço juntava-se a família, comia-se melhor que em qualquer outro dia. Havia festa e todos os habitantes se iriam encontrar no terreiro. Todos ansiavam pela altura do leilão que reverteria a favor da comissão da festa...dançava-se...muita gente, principalmente emigrantes que estavam ali a viver os melhores dias de um ano fora, de trabalho duro.
Salto de imagem...e... que beleza! Subi um pouco a encosta de casa de meus avós e deparo-me com um natureza fulminante! Meu coração parece parar! Do cimo da serra, mesmo em frente, outra serra, só se vêem oliveiras e vinha. Entre as serras corre o rio Douro, bem apertadinho pela serrania que, de inveja, o vão apertando e é vê-lo fugidiamente saltar de um lado para outro dando ainda mais beleza à paisagem, contornando o sopé das montanhas. Sento-me no chão, olhando esta colossal natureza. Minha mente vai gravando e transferindo para o meu coração este segredo que guardo em mim: a natureza com toda a sua plenitude, o amor dos avós, o meu sentir de criança e depois de jovem que agora já em idade em que a sabedoria vai alta, me dá o filme mais confortante e real que um ser humano pode viver. Feliz de quem viveu momentos iguais!
Limpo a lágrima furtiva, suspiro pela saudade e agradeço a meu coração pela conservação de tão sublime segredo que guardo...
Maria Helena Quartas Esteves
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Não me canso de afirmar, as Mós é única. Desperta paixões e emoções que ninguém sabe explicar.Cara Manuela, obrigado por este pequeno texto.
Até dia 11 de Junho. Tenho a certeza que vai ficar suprendida nesse dia.
Até dia 11 de Junho. Tenho a certeza que vai ficar suprendida nesse dia.
A leitura do texto,todo o conteúdo e forma, conduz-nos a narrativas pessoais que sintetizam o amor à terra e o regresso ás origens.Ideias claras e um retrato que espelhando embora a paisagem e belezas naturais, dá realce a uma sensibilidade afectiva capaz de fazer cair uma lágrima teimosa a qq leitor.O reencontro com os amigos e a família, apenas solidifica a amizade ás pessoas e à terra.Portugal é isso mesmo, um País de afectos sempre narrados por poetas e vividos por gente simples e boa, que sente o pulsar da terra e vê a cada momento a sua terra como a única... a mais bela, quiçá a única.Parabéns à autora e óbviamente a quem divulga estes maravilhosos textos, que são afinal um pouco de cada um de nós...
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