10 março 2011

MOSENSES HOMENAGEADOS NO CENTENÁRIO DA 1ª REPÚBLICA


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Não foi esta a primeira vez que nas Mós ficaram publicamente perpetuados o respeito e a veneração por aqueles que no passado, pela sua generosidade, pelo seu sacrifício ou pelo seu talento e civismo, da “lei da morte se foram libertando” (como escreveu Camões).
Reportando-me, apenas, às figuras que se distinguiram durante o período histórico relativo à Primeira República, lembro que já ficou gravada na pedra a gratidão da comunidade mosense ao grande benemérito que foi António Augusto de Oliveira Mendes e o mesmo aconteceu com insigne pedagogo e autarca, Professor José António Saraiva. Mas estas consagrações foram concebidas e realizadas por entidades ou forças vivas locais.
Em 26 de Fevereiro último, as homenagens póstumas aos combatentes da 1ª Grande Guerra e a Lúcio do Nascimento Ferreira tiveram o patrocínio da Câmara Municipal e a preparação de dirigentes e de técnicos do Museu da “Casa Grande” (da A.C.D.R. de Freixo de Numão), e aconteceram na sequência das que tiveram lugar noutras freguesias do nosso concelho.

O evento começou por reunir na sede de Associação de Cultura e Recreio “As Mós” representantes das referidas instituições, membros da Junta de Freguesia e da Associação local, muitos mosenses e alguns amigos e convidados.
Por sugestão do nosso Presidente da Junta, Eng.º Carlos Coreia, o início das homenagens teve lugar nas proximidades de Fonte do Barreiro, num sítio onde fora erguida uma bem aparelhada estela, tendo numa das faces a seguinte inscrição: HOMENAGEM DO MUNICÍPIO DE VILA NOVA DE FOZ CÔA AOS COMBATENTES MOSENSES DA 1ª GRANDE GUERRA. Na face oposta, ficaram gravados os 17 nomes dos homenageados.
Quando ali chegámos o pequeno monumento encontrava-se coberto com a bandeira nacional. Descerrada a estela pela senhora Vereadora Andreia Polido de Almeida e pelo nosso Presidente da Junta, após uma breve introdução de ambos, usou da palavra o Mestre António Sá Coixão, começando por dizer que a elaboração do rol dos combatentes homenageados só era possível graças às informações colhidas na obra de Joaquim Castelinho, mormente no seu livro “Memórias de um Combatente”, passando depois a louvar o laborioso trabalho que este nosso comum amigo desenvolveu, em prol dum melhor conhecimento das Mós e das suas gentes.
Tomou depois o uso da palavra o autor destas linhas, que disse:
“No dia em que o tribunal da história das Mós nos dá o presente ensejo, não podíamos deixar de lembrar os mosenses que, há noventa e tal anos, foram obrigados a deixar o aconchego do seus lares e os afectos de noivas e familiares para irem combater em França, na 1ª Grande Guerra, sacrificando a saúde e alguns a própria vida nas trincheiras dos campos gelados da Flandres. É portanto mais do que justo que se erga um memorial perpetuando os respectivos nomes.
E quando o engrossado acompanhamento se dirigia para o Fundo do Povo, ao passar pelo “Largo da Escola Velha”, chamei a atenção da senhora Vereadora e do nosso Presidente da Junta, para lhes dizer, publicamente:
“As dívidas de gratidão para com os homens notáveis do período agora relembrado, não poderão ficar saldadas enquanto este recinto (designado “Largo da Escola Velha”) não passar a chamar-se: Largo Professor José António Saraiva.”

Minutos depois, a comitiva chegou junto do frontispício da casa onde fora colocada a placa de homenagem a Lúcio do Nascimento Ferreira, a qual também se encontrava coberta com a bandeira nacional.
Descerrada a placa, usou da palavra o autor destas linhas (sobrinho neto do homenageado) que disse:
“No complexo habitacional que integrava esta casa, nasceu a 29 de Dezembro de 1882, um republicano desde a primeira hora, que devotadamente serviu a sociedade no exercício de três funções: foi responsável pelo registo civil de 4 freguesias (Mós, Santo Amaro, Murça e Seixas); foi, durante algum tempo, regedor nas Mós e após o falecimento do Professor José António Saraiva, passou ele a substituí-lo como Secretário da Junta de Freguesia.
E foi pelo seu desempenho neste cargo e como Oficial do Registo Civil que acabariam por ficar registados em acta louvores pelos bons serviços prestados em prol desta e das referidas comunidades vizinhas.
Mesmo depois de derrubada a 1ª República, a Junta de Freguesia, presidida por Francisco Mendes Júnior, atribui-lhe o encargo de orientar e fiscalizar os trabalhos relativos à reparação de ruas da freguesia, por ser considerada a pessoa mais indicada e competente para o desempenho dessa missão. Como prémio pelo seu zelo e competência, foi decidido atribui-lhe uma gratificação de 100 mil reis.
Em finais dos anos vinte, desgostoso com a consolidação da ditadura, e preocupado com a saúde de uma filha e com o futuro profissional dos restantes 4 filhos, deixou definitivamente as Mós, passando a residir no Porto, onde sempre manteve as portas abertas de sua casa para receber familiares e amigos.”
Finda esta singela homenagem, dirigimo-nos todos (e já éramos muitos) à sede da Associação, onde também chegaram os senhores Presidente e Vice-presidente da Câmara Municipal de Foz Côa.
A terminar o dia comemorativo usou da palavra o Mestre António Sá Coixão que pormenorizadamente explicou o significado dos documentos, imagens e objectos alusivos a estas e às restantes homenagens levados a cabo nas comemorações do Centenário da República no nosso concelho.
Em nome de todos o que organizaram este evento, agradeço aos que a nós se juntaram para pagarmos mais estas dívidas de gratidão.
Bem-hajam todos.
José Gomes Quadrado

Comments:
Um homem só morre quando é esquecido e deixado de ser falado.
Homenagear quem fez algo pela história da nossa terra, quem contribuiu para um caminho desenhado com marcos importantes, que enriqueceu dessa forma uma história... é valorizarmos as nossas raízes, é relevarmos quem somos.
Somos fruto de muitas gerações, de muitas coisas que contribuiram para a nossa educação, para a nossa história.
É um orgulho muito grande fazermos parte numa história com "histórias" bonitas para contar.
E é por isso, que temos amor à nossa terra. Porque ela é cheia de contos, de passagens engraçadas, de pessoas interessantes... de tradições bonitas, de sentimentos peculiares.
A nossa terra é o ventre onde fomos gerados e onde existe os pedacinhos mais puros de nós mesmos.
Penso que, é com a idade que vamos descobrindo estas coisas e entendendo-as. Porque os nossos sentimentos fazem-nos reflectir e questionar...tantas e tantas coisas da vida.
A nossa aldeia, onde estão as nossas raízes, as nossas origens, é o único cantinho do mundo onde nos sentimos protegidos, acolhidos e carinhosamente lembrados.
Estes momentos vividos nas Mós, são de muito valor.
Este dia foi muito bonito. Pelas pelas homenagens, pela partilha, pela comunhão e conhecimento que daqui adveio.
Um abraço forte para a minha familia mosense.

Maria Cristina Quartas
 
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