06 maio 2010

reencontrão (uma viagem de paulo almeida)

Transcrito de: no gabinete de Paulo Almeida

Após uma noite inquietada pela ansiedade do que me esperava, calo o despertador e salto a cama para um revigorante duche e preparação de um esperado reencontro. No ar sentia uma temperatura amena e o Sábado, mesmo que nublado, parecia prometedor. Com os bilhetes já comprados, tomo um cafezinho apressado no bar da estação e embarco no comboio regional com destino a Mós do Douro, levando o meu filho numa viagem tão tranquila quanto aquele amanhecer.

Os baloiços da carruagem queriam me embalar no sono nos primeiros quilómetros da linha do Douro, calcorreados ferozmente pelo cavalo metálico, mas eu não deixei. A cada paragem os passageiros iam entrando e acotovelando-se na ânsia de encontrar um assento livre. Já na descida para a Pala sou retirado dos meus pensamentos com os “uaaaaauuuus” boquiabertos dos turistas, deslumbrados com as primeiras imagens que viam do rio.
A manhã iluminava-se devagarinho de um azul quente que enfeitava o céu e o Vale do Douro. A linha ferroviária alinhada entre o rio e as montanhas, as vinhas a perder de vista e o sol nascente, causavam imensos reflexos em suaves gradações cromáticas, e em mim uma emoção tão forte como se fosse aquela a minha primeira viagem.
Cinquenta minutos depois estava parado na estação da Régua, numa carruagem já quase esvaziada de gente e toda por minha conta. De máquina fotográfica em riste esperei pelo recomeço da marcha e deixar-me encantar com a mágica beleza da segunda etapa da viagem.
Mas o melhor de tudo aconteceria na minha chegada à terrinha. A expectativa, a inspiração, a vontade enorme de conhecer o Doutor Quadrado de quem já gostava muito através dos seus escritos, o Carlos Pedro cantor e artista dos seus blogues, o "dasMós" e o intenso Varanda do Tempo, que recomendo vivamente uma visita, o Luís "Corticeiro" e a jovem e bonita vereadora camarária Andreia Almeida.
Saber que iria reencontrar quem já não via há quase trinta anos e que até então, depois de eu ser redescoberto pela Cristina, só havíamos trocado e-mails e comentários. Seria o primeiro olhar desde a nossa adolescência, e aconteceu, e superou a expectativa. Quando imediatamente nos reconhecemos e fortemente nos abraçamos sentimos que a admiração era grande e que a saudade era mútua. Depois de uma tertúlia duradoura, ouvindo histórias e sábias anedotas, saímos à noite por algumas horas e calcorreamos as ruas tortuosas e desertas da bela terra dos nossos pais, tirando fotografias e recordando momentos passados em conjunto. Foi pena ter durado tão pouco, mas tenho certeza de que nos encontraremos lá novamente.
É de facto uma emoção redobrada e sentida sempre que percorremos caminhos e lugares que noutros tempos foram palcos das nossas aventuras e brincadeiras de criança. Há por ali um sentimento puro de nostalgia e ao mesmo tempo “um enchente” de calor humano ao revermos os mesmos rostos e sorrisos que o tempo ajudou a envelhecer. Ao fim de tantos anos voltei a sedimentar essa emoção e nostalgia, voltei a um dos meus paraísos e deixei-me levar pelas mais puras recordações.
O comboio, o rio, as paisagens, os campos floridos, os caminhos, a ribeira, o pão, os aromas, as hortas, as velhas casas de xisto, as andorinhas, os seus ninhos e os seus chilreios são elementos inesquecíveis, que apesar dos anos permanecem ali, como que a convidar ao meu regresso.
A aldeia das Mós, toda ela, emana memórias e recordações, do trabalho duro do campo, das folias da festa, dos jogos tradicionais, dos serões em família, do baloiçar no lombo dos animais, da lágrima que sempre escapava no adeus, de algo que se perdeu no tempo.
Mas a memória tem o dom e o condão de ressuscitar esses momentos, de condensar esses instantes, esses lugares que como tal viverão dentro de nós para sempre. E as fotografias que fui colhendo vão dar uma ajuda.

Comments:
"O verdadeiro amor nunca se gasta. Quanto mais se dá mais se tem."
Saint-Exupèry
 
Ando dia a dia para descrever o que senti, vi e reflecti. E ainda não fui capaz de escrever uma linha.
Nem sei bem explicar... apenas dou comigo, a reviver o que senti nos reencontros que tive e nas sensações que me afloraram ao conhecer alguns amigos que apenas conhecia virtualmente.
Com toda a sinceridade digo, foram sensações muito boas, sentimentos de amizade, carinho e muita muita pureza nos abraços e apertos de mão.
Senti afectos de amizade e de familia.
O Paulo Almeida é fantástico a descrever os seus sentimentos e os momentos. Parabéns pelo texto tão genuino e bonito.
De facto, há coisas na vida que demoram anos a entende-las.
E foram preciso estes anos todos, e principalmente neste fim-de-semana deste encontro maravilhoso, para eu entender o que o meu pai sentia... quando falava nas Mós, nos velhos amigos e nos momentos vividos.
Sabem o que me ficou de todos os momentos que vivi neste fim-de-semana? Desde a minha caminhada ao Campo da bola, ao ar que respirei, aos cheiros que senti, à sopa (maravilhosa sopa) da tia Alda, das conversas que tive, dos abraços, dos sorrisos... Há uma magia no coração das pessoas das Mós. Há um carinho, uma amizade, uma afectividade tão grande, tão grande! Uma familia.
Junto à saúdade renasceu um amor, uma paixão. Uma paixão pelas Mós e por todos que pertencem a ela.
Um caloroso abraço muito muito forte a todos.
Obrigada Paulo Almeida.
 
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