19 junho 2006

Postais das Mós (XVII e XVIII)

(continuação)
"Aturdido com a algazarra, fugiu a bom fugir de tanta brutidade. E foi então que resolveu regressar ao seu tonel, para junto da mulher que desposara.
Ia caminhando, convencido que todas as mulheres eram estúpidas, quando, a meio da tarde, ao passar junto de uma eira, deparou com os malhadores deitados à torreira do sol.
- Ó almas do diabo! A tarde a passar, o pão por malhar e vós aí, de barriga p'ró ar, à torreira do sol! Se não quereis trabalhar, ao menos, deitai-vos à sombra...
- Não podemos! - responderam, - Quando nos sentámos para merendar, ainda ainda aqui fazia sombra. Depois, deitámo-nos, ensarilhámos as parnas umas nas outras, e aqui estamos neste castigo, sem atinarmos com as pernas de cada um.
- Ó trabalhos vos persigam, nunca nem agora! Esperai que eu vos ensino!
Dito isto, agarrou um mangual e desatou a malhar neles. E era vê-los, então, a fugir, de braços no ar, a pedir misericórdia."
(continua)
(J.G.Quadrado)

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