14 dezembro 2014

A Minha Terra (José Adriano Passeira)


Terra de oliveiras e vinhas e amendoeiras e xistos.
Terra onde o céu, a lua e as estrelas se misturam com as montanhas.
Terra onde os cheiros das várias flores selvagens e do rosmaninho se combinam tão suavemente!
Terra onde a paisagem agreste, com o Rio Douro serpenteando lá no sopé da montanha, se torna num deslumbramento sem fim!
Foi nesta Terra, quase paradisíaca, que vim ao Mundo… há muitos Anos, na primeira metade do Séc. XX.
Naquele tempo a minha Terra ficava longe do Mundo! Mas, mesmo assim, deu Homens para, na Flandres, ajudarem a defender esse mesmo Mundo!
Mas lembro-me, com saudade, de visitar a minha aldeia natal quando ainda pequenino.
Lembro-me, como se fora hoje, da casa de minha avó materna, situada na entrada da aldeia quando se chegava de burro, trazido da Estação ferroviária de Freixo, uma légua, montanha acima.
À minha aldeia não chegava qualquer estrada, naquele tempo! Não havia transporte com rodas que pudesse galgar aquelas montanhas do comboio até à aldeia e vice-versa, porque apenas havia um trilho para alimárias ou gente a pé.
Fui criado não muito longe, digo eu agora, mas muito longe, para aquele tempo!
Os meus pais eram ferroviários e tivemos de ir viver para as proximidades do Porto, era eu ainda muito pequeno.
Naquele tempo havia comboios e uma estação muito bonita, com azulejos azuis e um relógio muito grande, que estava sempre certo! Hoje, apenas ruinas daquilo que existiu e era ponto de encontro de pessoas daquelas localidades; aldeias, quintas, lugares…
E como era bom ir naqueles comboios lentos, cuspindo lume, largando fumo e apitando, por aquele Vale do Douro!
Como tudo isto, naquela idade, era fascinante!
Mas, dizia eu, lembro-me perfeitamente da casa da minha avó Amélia e do ambiente da aldeia!
A casa ficava no Valetrigo, tinha um quintal e uma varanda de madeira voltada para esse quintal.
Por ali entrava o Sol da manhã sem pedir qualquer licença!
Lembro-me de uma fonte e de um lagar de azeite que existiam logo por baixo, do outro lado da rua.
No centro do povoado havia um forno colectivo, onde as pessoas coziam o seu pão para toda a semana. Tudo era organizado de modo a servir toda a população.
Não existia padaria, nem talho, e as pessoas viviam com o que criavam elas próprias.
Lembro-me de ver as galinhas, que eram donas de todas as ruas da aldeia.
Os porcos também vinham muitas vezes para a rua e faziam um pouco o papel de calceteiros… mas ao contrário!
Lembro-me com muita saudade de todos os meus parentes e de vizinhos que para sempre nos deixaram.
Tenho na memória a igreja e o gigantesco ulmeiro que existia no terreiro em frente.
Os serões, que naquele tempo se faziam para descascar a amêndoa, e onde se juntavam parentes e amigos, eram noites de alegria e convívio são, de que nunca me esquecerei.
Lembro-me de ir com os meus tios e com meu pai às pequenas hortas e aos amendoais, onde também havia figos, pêssegos, laranjas e uvas tão saborosos!
Há também um pequeno ribeiro que quase secava no Verão e onde os porcos gostavam de refrescar-se e fazer as suas escavações.
Esse ribeiro divide a aldeia em duas encostas que lhe dão tanto encanto!
Hoje sinto muita saudade desses tempos da minha meninice passados na minha aldeia e tenho receio de um dia lá voltar e não reconhecer a terra onde nasci.
A aldeia fica agora mais algumas léguas afastada de uma estação de comboio, mas já está mais ligada ao Mundo porque já é servida por estrada!
Esta aldeia chama-se Mós do Douro e era, ao tempo, sede de Freguesia e teve por nome S. Pedro de Mós.

José Passeira
2014

www.facebook.com/jose.passeira

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